Sobre ninfas e bolas de sabão

Data 06/08/2014 06:09:14 | Tópico: Crónicas



Dizem que já não há mais ninfas. Tal afirmação contudo, não procede. Esse pensamento não é meu, nem seu. Também jamais será nosso como aquele, segundo da esquerda para direita, na foto antiga do seu álbum de casamento. Talvez num ritual de magia vermelha com banho de beterrabas consiga ganhar um brilho especial diante de tanta magia para conquistar amores. Ou quiçá, pelo motivos tantos que levariam uma anciã surda a ler poemas de amor para o gato da vizinha.
Ressaltando-se que o bichano porta-se de modo impecável, apoiado nas patas traseiras, lobrigando a cauda e somente emitido miados quando este ou aquele trecho da leitura parece-lhe maçante. Que saberia sobre metáforas e enjambements? Mais que isso, ronrona feliz, lambendo os bigodes e a testa melecada de restos de patê de anchovas albinas.

O felino pode ignorar as tágides preferindo uma porção de wiskas. Há uma ninfa em cada lugar, malgrado a cilada de Circe. Vejo hamadríades nas ascensoristas de uniforme verde, topei com tantas tálias fazendo graça nos corredores da universidade. São tantas assim as náiades, nereidas, híades e calíopes nos diversos locais que frequento. Afirmo que há uma ninfa em cada lugar.

Mesmo diante dos incrédulos, céticos a julgarem risíveis e mendazes essas ponderações, não quero que os ânimos se ergam. Mesmo eu, às vezes tenho certa dificuldade em acreditar nas minhas palavras, visto que conjecturas banais sempre povoaram os balcões e mesas dos bares. Ali também há lâmpades em breve descanso da lida refugiadas dos inferninhos.

Em verdade, talvez haja uma ninfa em você, nos guichês dos bancos, nas repartições públicas. No meio da multidão intransitável, até mesmo transparentes, algo invisíveis, procurando uma identidade, escapar à solidão, mas claramente distinguíveis. Bebendo uma cerveja num momento de descontração, ouvindo música, virando a cabeça dos ciclopes, outras acanhadas, constantemente esperando um amor

Então, se não acreditam em ninfas, metam o rabo entre as pernas até que se derretam num auto forno enfrentando sufocante nevasca nas areias de Dubai.
E se perguntarem das bolas de sabão... bolas para elas!





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