Vendo triste o mundo embalar a brisa

Data 08/08/2014 08:06:21 | Tópico: Poemas



Não havia nem um guarda-chuva furado,
nem um toldo de lona no ninho do corvo,
assombroso era ter pelo menos um botão,
respeitável chave pregada naquela camisa.
Não tenho contato com a família grande,
isolado de tudo, sempre fui estorvo,
sem furos no meio, sem interruptor,
vendo triste o mundo embalar a brisa.

Sobre vigas de ombros metálicos
passaram lentos inverno e verão,
bem depois de provecta idade,
é útil usar um gorro mescla de lã;
bordado ou liso, sem manchas de giz,
batom na camisa fina de puro algodão.
Aí correr diante de insucessos tantos,
para se espantar ao buscar o socorro.

Bem sei do soberbo perigo que brota
quando uso carteira no bolso de trás;
ser normal é ser inócuo como aldeões,
voar em busca vã do cálice de Cristo.
É certo que sempre posso encontrar
esquilos felizes em abrigo mais eficaz.

Agora, desista e não pergunte por ela
nem na seção de achados e perdidos,
tudo vai ser inútil, somente esparrela,
e mais pode ser somente imprevisto:
pois na verdade, aos ateus retornaram
destros e ágeis mais sórdidos sorrisos.



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