TEM GARANTIA DE FÁBRICA

Data 25/01/2008 05:12:42 | Tópico: Crónicas

Dia desses resolvi trocar meu velho teclado por um mais moderninho. Fui até o centro comercial de importados, que aqui chamamos de “camelódromo”. Reúne cerca de uma duzentas lojinhas de importados. Um bom teclado que numa loja convencional custa cerca de oitenta reais, no camelódromo podemos comprar por vinte, com a mesma qualidade e marca. É claro que há os produtos de segunda linha, os falsificados, mas com uma observação mais detalhada, podemos diferenciar os de primeira dos de segunda.
Após conferir em algumas lojas os teclados em oferta, encontro o que procurava. Fiz alguns testes rápidos e confirmei que era de boa qualidade. O vendedor diante de meus questionamentos e na afobação de me vender o teclado, me sai com essa: “tem garantia de fábrica”! Imagine um teclado que sai lá do outro lado do planeta, e sabe-se lá como chegou à mão de um muambeiro, me dando garantia de fábrica. Ora bem, só pode ser uma mentira deslavada!
Mas essa é uma, das muitas que ouvimos, quando saímos à rua. Anotei algumas que ouvi recentemente. E possível que você também já tenha ouvido algumas delas:
• Do ambulante que comprei um jogo de pilhas para o pen drive: “Qualquer coisa, volta que a gente troca”. O difícil seria adivinhar em que esquina ele estaria.
• De uma ex-aluna desiludida com o rompimento do noivado, que a causalidade nos colocou lado a lado numa esquina diante de um sinal vermelho, para pedestre: “Não quero mais saber de homem”! Lembro-me quando seu noivo, que também foi meu aluno, disse-me, certa vez, abraçando-a: “Casaremos o mais breve possível”!
• De um atendente de uma loja de sapatos (o sapato que eu queria ficou um tanto apertado, e acima daquele número não havia mais): “Depois ele (o sapato) alarga no pé”! Fiz até uns versinhos para ele:
Ó sapato... aperto sem zelo,
Bem no meio do passeio,
No dedo esquerdo,
Vermelho,
Um calo.
• De um amigo, que me encontrou, casualmente, no bar do Shopping: “Tenho de ir embora, pague minha parte que depois acerto contigo”! Fique sabendo, meu amigo ou minha amiga - quem empresta, adeus!
• De uma ex-colega de cátedra que, por acaso, encontrei no mesmo Shopping, logo depois que sai do bar: “Você está cada vez mais jovem”! Pois é, este ano, faço sessenta.
• Da filha do meu cunhado, no aniversário dela, ao receber o presente: “Não precisava de presente (já o abrindo)!... Sua presença é mais importante”!
• Do meu filho, de vinte anos, avisando pelo celular: “Antes das 22 horas estarei em casa”! Numa sexta, à noite, daria para acreditar?
E tem aquela eterna mentira, do cara-de-pau do dentista, que ouvimos desde a infância: “Não vai doer nada”! Já ia me esquecendo a do farmacêutico, na hora de injeção: “É só uma picadinha”!

Salvem-se, delas, quem puder!



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