Morphético

Data 16/08/2014 00:05:29 | Tópico: Poemas

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Acordou naquela noite
no meio da noite
como se fosse o dia
já satisfeito do sono
do morrer vivo do dia a dia
do morrer vivo nas noites frias
e secas
umas sozinhas
outras com companhias
talvez secas
do pós sexo casual.
Acordou de supetão
com o torço já ereto
reto
em L
na cama
pernas estendidas
entendendo nada.
Agora deveria dormir
deveria estar lá
no lado que se fica
quando se vai do corpo
no sono.
Não estava.
O silêncio urbano acusava
a anarquia temporal
que fazem
os notívagos e insônes.
Acordam quando se dorme
e as vezes dormem quando
o mundo acordou de estar
acordado.
Quase todos.
Por um motivo qualquer
desconfiava
que nunca voltaria a dormir.
Nunca.
Os olhos estrelados
fitavam o teto
quase-branco
de encardido
e o globo de luz
que lembrava uma lua
apagada.
Levantou as mãos
para conferir
se haviam patas de insetos
ou mãos ainda
de primatas,
como se o pesadelo do Kafka
houvesse caído de paraquedas
nas suas pálpebras.
Era gente ainda.
Como conhecia serem as gentes,
fisicamente.
Só não dormia.

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