Quinzena do medo - Lizaldo Vieira

Data 20/08/2014 02:06:16 | Tópico: Poemas

Quinzena do medo – Lizaldo Vieira
Aquelas noites silenciosas
Naquela estrada velha
Cheia de santa cruz
Espantalho no milharal
Curral velho
Sem gado
Na tremenda escuridão do caminho da Fortina
Tudo é tenebroso
Tudo faz medo
Para homem
Mulher e menino
Gente obrigada a esse ermo
Por obrigação
Naquelas paragens
Cheiro de enxofre no ar
Coruja cruzando a estrada fria
Neblina cercando a sobra
Porque será faz tanto silencio no Beco Escuro
Só de pensar
Em passar naquele lugar
De calafrio
O cavalo refuga a sobre parada
A alma treme sem dó
Tanto silencio e segredos
Até gavetos se escondem
Ninguém estala o dedo
Medo
Em prosa e verso
Vez por outra
Bacurau quer ser perverso
Rasga o verbo
Naquele véu da noite de prender o folego
No beco da lama
Nenhum boteco aberto
Tudo longe
A casa tá longe
Nade se levanta
Só o medo por companhia
Ninguém se aventura em tossir
Por ali
Topada é silenciosa
Suspiro profundo
A lua cheia do cavalo de Jorge
Nem pisca o olho
Diz que tudo é assombração
Na meia noite de sexta
Uma estrada lenta
Céu enfarruscado
Vento lento e manhoso
Um vento frio assovio no ouvido
Grilos sapos fazem um coro torturador
E agora
Como atravessar a cruz da donzela
O pior de tudo
É olhar para traz
Será que viramos estátua de sal
Arre diacho
Quanto tremer de queixo
As pernas trôpegas
Por mais veloz
A estrada parece não ter fim
Lembro-me de estórias medrosas
Quando criança
Tinha que ouvir
Pra não sair de casa
Naquela escuridão
Tudo que mais é ouvir uma voz
Vindo da freguesia
Sinal de gente viva
Nem que seja uma reza na novena
De mãe jurema
Nada que faça lembrar momentos de Vampiro
Lobisomem
Saci-pererê
Nada que arranque o suspiro
O galo calou
Nem o sino da matriz tocou
Nossa senhora nos livre do canto das Aves agorentas da eia-noite
Dessa canção anormal das noites de
Lua cheia
Cruz credo
Chega pra lá coisa ruim
Sai de mim
Chega de assombração
Não faz meu corpo tremer



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