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 Aqueles que eram do meu jardimData 21/08/2014 16:03:40 | Tópico: Poemas
 
 |  | Vieram e ceifaram os que eram do meu jardim. Vieram no meio da noite quando, em sonho,
 vagava pelas ruas da minha infância,
 ainda soldado-raso nas fileiras da vida.
 Pela manhã, pus meus olhos nos caules órfãos,
 onde a seiva, ainda fresca,
 escorria como as lágrimas que os embaçavam
 e transformavam o entorno
 (estrada, ponte, reses, árvores, tudo, tudo)
 em um grande e vistoso Monet.
 Imaginava-os em algum vaso
 sobre a mesa duma recente viúva,
 levados por um parente vindo de última hora
 que os viu alento.
 Ou, então, no colo d'alguma jovem
 assediada por um vilão apaixonado
 que os viu conquista.
 Quem sabe ainda,
 ladeados pela fotografia amarelada de algum ente querido,
 roubados por aquele que os viu consolo.
 O certo é que, sob a soleira,
 sentia o quanto deles havia em mim
 e enxergava, minuciosamente,
 tudo o que se deu
 desde quando eram pequenas e promissoras mudas
 nos côncavos das minhas mãos.
 
 
 Frederico Salvo
 
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