"...ergo sumus"

Data 22/08/2014 12:05:35 | Tópico: Prosas Poéticas


a minha vida cortada em viés metades de laranja.
o impulso de rotação, a polpa da mão esmagando, misturando a carne, os sucos, o tempo visceral do meu sangue dividido em gomos de desprazer centrífugo.
bebo, em nome do espírito de todos os natais em que morri.
e a manhã nasce, enfim, quando o dia desiste da noite e eu desisto do café - o meu céu da boca já ruiu, e o que me sobra são grãos negros encravados na garganta...
tento engolir, tento exterminar todas as intenções de voz e de memória -
chega de grãos, não quero nem sequer a simples reminiscência deles!
verto o sumo que resta no ralo da banca e volto para a cama:
dormir é só um túnel onde o comboio retarda o andamento.




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