
Uma Dose...
Data 29/08/2014 20:38:58 | Tópico: Poemas
| Trancado dentro de mim mesmo Como num castelo de Walter Scott Olhei-me e perguntei ao espelho Se era serafim num verso de Klopstock.
E acabou que entrei em sono profundo Tudo era branco lembrando um inverno De repente estava no centro do mundo Cérbero ladrava no portão do Inferno.
Sem fio de Ariadne e sem Dédalos Perdi-me naqueles estranhos labirintos Sem asas de cera como o do menino Ícaro Procurei, como Dante, ajuda em Virgílio.
E, do nada, eu nadava em suplício num rio Onde um óbolo era o preço da barca de Caronte Ouvi gritos, arrastos de correntes, vários gemidos E na minha frente vi homens torturados aos montes.
E lembrei-me daquele herói da cidade de Ítaca Que dez anos ficou sem voltar para sua amada. Lembrei-me do poeta que a nado salvou o Lusíadas Quando vi sorrindo Aleister Crowley numa maca.
No rio de lamentos haviam poucos navegantes Na verdade parecia-me que eu via somente um Era Dom Quixote, personagem do grande Cervantes Montado no Rocinante enquanto Sancho bebia rum.
Tudo ali era extravagante, extraordinário, extra. Acho que vi Jack estripando prostitutas nuas e imundas Lúcifer tomando um cálice de sangue com a mão destra Vi diabinhos em orgias com umas raparigas bem vagabundas.
Depois tudo me pareceu tão surdo, turvo que eu não sei. Mas, pela barba, parecia que eu via uivando o velho Raul. Parecia-me que virava churrasco o piloto do Enola Gay Empalado até o talo numa vara de mais de metro de bambu.
Por fim acordei todo suado e percebi que estava no meu quarto. Havia três dias que eu estava adoentado, gripado, constipado. Rezei um Pai-nosso, benzi-me dez vezes e rezei dez aves-marias. Depois foi que eu percebi que tinha errado as dosagens de Amoxilina.
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