Venho de domesticar a dor

Data 12/09/2014 13:21:26 | Tópico: Prosas Poéticas


Estou aqui a amestrar o silêncio no silvo da bala, ansioso por salivar o teu corpo.
Trago dos tempos a empreitada do poema, a ânsia sôfrega de construir pirâmides no teu ventre.
Ninguém me ensinou a ser asno, roda de moleiro, mas espreito na corrente da vida os peixes, os arco-íris das pálpebras, como criança enjeitada.
Tenho asas e não voo, guelras, e não respiro que não seja por palavras, verbos.
No teu peito eu cravei estacas a demarcar os pastos da fome, os limites das enseadas tristes onde naufrago, cactos.
E nas falésias, tombando infiel sobre as rochas, eu acasalo com as marés e os ventos, as caravelas carunchentas do meu país.
Nem sereias nem cantos, nem casas nem prantos.
Ser poeta é morrer a cada dia envenenado como cão vadio, espumando nas vagas.
Espumando nas vagas, quantos?



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=278429