Até o fio se quebrar...

Data 27/01/2008 15:36:00 | Tópico: Homenagens

Rolaram juntos pela vida...
Como rocha que desce a montanha...
Mão na mão...
Entre gargalhadas e gemidos,
Sonhos e pesadelos,
Amantes e amores...

Fitaram-se profundamente...
Como se o olhar resolvesse impossíveis...
Beijaram-se... amaram-se...
Dançaram um pas de deux...
Cingindo e cedendo...
Ao som dos filhos gerados...

Conquistaram e perderam, vezes sem conta, céu e inferno...
Passo a passo...
Entre promessas e desejos,
Fontes e desertos... pétalas e espinhos...
Entre heróis e vilões
De romances contados e por contar...

Afastaram-se e entrelaçaram-se...
Amaram-se e odiaram-se...
Corpo e alma... unos... gémeos...
Atravessando e contornando...
Ao ritmo das sonâncias da vida...
Ao compasso de um tango fadado...

Carregaram nos cinco sentidos
Cores... sons... cheiros... sabores...
De além do Tejo... da pátria verdade...
Trouxeram consigo sentida saudade...
Da terra mãe... namorada... amante...
Poeta do sobro e do pão...

Deram vida e viram morrer...
Sangue do seu sangue...
Em dádiva dolorosa ao mundo que os acoitou...
Como quem semeia... como quem rega...
Como quem espera a safra que tarda...
Como uma súplica que a vida nega...

Rolaram assim...
Como aqui os vedes...
Como um dia os vi...
Tão certos de si...
Tão plenos de verdades discutíveis...
Certezas...
Talentos...
Na humildade da dúvida...
Da hesitação...

Até o fio se quebrar...

Ele desistiu primeiro...
Sem forças para mais um fôlego...
Para mais um passo...
Com olhos cinza e baços...cansados de olhar...
Com o peito ofegante...esgotado de dar...
Com mãos transpiradas de tanto apertar...

Ela resiste ainda...
Sonha-o... deseja-o... falta-lhe parte...
Quer reencontrá-lo... senti-lo de novo...
e... em jeito de arte...
Rolar pela vida como uma rocha...
Em unissonante cântico...
Triunfo solto do infortúnio...
Desta história que não tem fim...


Aos meus pais... com todo o meu amor...


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