Energia Que Flúi Numa Outra Dimensão

Data 27/01/2008 16:26:02 | Tópico: Textos



Perdida entre os espelhos, os reflexos e os sentidos, deixo-me cair sobre o nada. Sinto, a brisa do vento que me trespassa a alma, vazia de tudo o que deixei ficar ali. Revejo o passado, no fundo do olhar que se apaga com a queda. Respiro os últimos segundos, antes de me apagar para sempre, antes de abraçar o vazio que pende sob mim.
Sinto o toque da água, gelada, abraçar o meu corpo, ainda dormente, ainda quente. Deixo-me arrastar para o fundo, num turbilhão de imagens, sons e recordações. Sinto a morte bater na porta, e esperar impaciente a sua entrada em cena. A alma estremece no momento final, o corpo contorce-se na agonia do medo, na raiva de não ter chegado onde esperou tocar um dia, mas, depois, distende-se e abandona-se à invasão da escuridão, na inércia de uma queda permanente, drástica e perpétua.
Aos poucos, o espírito abandona a sua última morada, que continua em queda livre, em direcção ao abismo escuro das profundezas. Sinto que ganhei asas, não tenho frio, não escuto nada, apenas vejo a minha mortalha, deslizar no escuro destas águas. Olho para cima, sou arrastada por uma força invisível que reclama a minha alma.
Percebo agora que estou de regresso a casa, cheguei ao lugar de partida, um sítio etéreo onde nada se sente, mas tudo se pressente. Deixei para trás a tempestade, os sentidos e a paixão, perdi as sensações, o corpo, as recordações. Ficou apenas a essência que um dia foi gente, e hoje é apenas a energia que flúi, numa outra dimensão.



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