Com um pouco de fome, Sofia poderia ser entendida

Data 22/09/2014 17:37:42 | Tópico: Contos -> Romance


Depois do batizado do filho único, a casa ficou sem telhado. Não eram muitos, com a grande geada, poucos restaram. Como devem lembrar, não havia self service, nem fast food. Tudo era a la carte. Dessa forma, para um irmão poderia dizer que teve dor de estomago por volta da meia noite e mesmo assim, ficaria sempre na entrada.
Todos os sentimentos passados eram agora desprezado diante da nova paixão. Desceria à terra orgulhosa dos feitos estranhos. Apenas um par de palavras doces nos lábios:
- “Com quem passou a noite? Continua reclamando, mas não enrola sequer um retroz de cordonê!”
Calou-se de repente. Astuciosa, bem sabia que não teria coragem nem desprendimento para levar onde fosse as alegrias de saber que depois da chuva poderia haver um arco-íris riscando as nuvens antes da noite.

“- Parafusos e estepes substituíveis. São os mais caros que os abacates, você sabe! “ A voz do Esgrimista soava limpa e agradável!
Sofia acabou de limpar os peixes. Em seguida, sem jogar os funis de plástico fez uma pausa. De repente, muito suavemente, murmurou:
- “ Quero muito assistir essa ópera. Também gosto de cotovias. Será que a Julieta morre no final?
Naquele momento a alma aparentava grande sofrimento, como vagalume vendo sua cauda se apagando com o rubor da aurora. Um traço eterno de risca de giz afundava cada vez mais no mesmo pântano. A todos o prazer era dado, ela precisava ser forte para não se tornar mero fusível de transformador bifásico.
Não martelam tanto, mas de uma forma estranha, as ameixas pretas que enfeitavam o manjar pareciam tremer. E ambos estavam preocupados com a mesma coisa. Naquele momento, até era compreensível a germinação dos brotos de bambu. E com um pouco de fome, tudo poderia ser entendido.



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