Caminete das Sete

Data 27/01/2008 21:48:21 | Tópico: Textos -> Esperança

Já não venho aqui escrever há muito tempo (quase 2 meses?), não sei que me deu desde aí, mas não tive mais coragem para escrever.

Escrevo isto na caminete da carreira, a que vai de Beja para Vilalva, mais conhecida como a caminete das 7, apesar de partir de Beja (ainda) às 18h40 e chegar a Vila Alva quase as 19h30. O horário de chegada nunca importou muito, nem na altura em que fazia este caminho todos os dias, no longínquo tempo do liceu. Naquela altura o que interessava mesmo era o caminho e os colegas, lembro-me de pensar que andar na caminete era mesmo a melhor altura dos meus tempos de liceu (bem... até começar a namorar, porque desde aí que o melhor momento era sem duvida ir meter-me na cama quentinha do Hugo, em Beja, depois de um caminho gelado passado nesta caminete..).

Como estava a dizer, nunca mais escrevi, nem aqui nem nos cadernos/blocos/paredes onde costumo fazer rabiscos. Mas agora vinha aqui, de portátil ao lado, liguei-o para ouvir musica e deu-me vontade de escrever – as frases começaram a formar-se na minha cabeça, como sempre fazia, e decidi aproveitar.

Acho sempre que ninguém vem ver isto, apesar de ser essa esperança que me faz escrever (já quando mantinha um diário o que me motivava era pensar que daí a muitos, muitos anos alguém ia ler aquilo…), mas o meu amigo Psi, também conhecido como Rui, veio aqui deixar uns comentários, o que me animou bastante (obrigado e um abraço enorme para a estação de Silves!!!), e esta foi a altura em que decidi escrever de novo.

É. A vida muda mas as vezes parece que não muda assim tanto enquanto não se passam uns anos valentes que tornem essa mudança visível. Ou as vezes são só precisos meses. Dois meses, desta vez. Já acabei, quase, a minha pós graduação em sanitária. Avizinha-se um emprego, espero que tudo corra bem desta vez, mas depois de 3 anos à procura de alguma coisa, não consigo evitar em estar um pouco apreensiva. Tenho medo, pode ainda não ser desta. A minha idade pressiona-me de uma maneira incalculável, sinto que não estou a fazer o que se deve fazer com a minha idade. Pior. Quando era mais nova tinha outros planos para mim que não estes, tudo bem , fiz o(s) mestrado(s) com que sonhei. Ate mais do que sonhei, porque só pensei em fazer um, mas há algo que não me deixa sentir minimamente feliz, parece que ando a treinar, a treinar, e nunca marco golos, nunca jogo à séria. Bolas. Espero bem que seja desta.

Depois há o coração. Pois há. Ainda não sei lidar com ele, mas ele deve saber lidar comigo porque me consegue sempre convencer a fazer montes de loucuras. Ou pelo contrario a não fazer nada, o parvo retrai-se e tem medo, fica pra lá escondido a tremer sem fazer nada. Não sei mesmo lidar com ele e nunca tive coragem suficiente para o ouvir verdadeiramente. Ainda me vou arrepender. Só espero que seja a tempo de fazer alguma coisa de jeito pela minha vida.

(Autocarro da Rodoviária do Alentejo, 30 Agosto 2007)


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