Reflexão de Natal

Data 14/12/2006 09:37:06 | Tópico: Textos


O Sol teimava em me acordar pelas frestas da portada, o berrar das ovelhas também era invulgarmente intenso, algo se estava a passar lá fora...
Levantei-me...vesti um camisolão por cima do corpo e dirigi-me à janela...quando abri senti um arrepio... sim...tudo estava diferente...
A pastagem que costumava ter um verde fresco pela manhã era agora completamente branca...estava linda...parecia uma enorme colcha de croché branquinha numa cama imensa.
Entendi a pressa do Sol, pois tinha de me mostrar esta maravilha antes de a derreter, e o berrar das ovelhas como que a reclamar que hoje o pequeno-almoço não estava no sítio do costume.
Fechei a janela pois o frio era muito, mas fiquei no interior do meu quarto a admirar aquela maravilha...sim, agora cheirava a Natal...
Senti-me então a vaguear pelas recordações de quando era jovem...
O Natal era anunciado muito mais cedo com as luzes, as montras, a música de Natal e as pessoas a pensarem no que iriam oferecer a quem lhes era querido...sim..na cidade era tudo muito diferente...havia uma alegria interior de ser Natal...como eu gostava do Natal...
Aqui na aldeia o Natal é para as crianças... os jovens acham uma seca, terem de estar uma noite com a família...os presentes são meias, com sorte uma nota para comprar figos secos (como dizem os mais velhos)...
A lareira é o elo de ligação das famílias, como os bolos caseiros, o pão feito no forno a lenha...e claro o bacalhau...bem, aí é igual em todo o lado, tanto na cidade como na aldeia...
Sinto que em Lisboa as pessoas são mais unidas, talvez por não se encontrarem tantas vezes...devido ao reboliço da cidade...aqui, ao contrário do que a maioria das pessoas pensam...muitas das vezes a consoada é apenas passada com os membros da família como se fosse um jantar igual aos outros...
De repente senti uma enorme vontade de fugir para a cidade... mas olhando ao meu redor verifiquei que vivia no paraíso e que este era apenas um sentimento que me assalta nesta quadra Natalícia...a saudade daquele tempo...foi então que fui acordar as crianças para verem o espectáculo lá fora e anunciei que o Natal estava a chegar...estava na hora de fazer a árvore de Natal... Estas saltaram da cama estremunhadas e foram a correr assistir à chegada anunciada...com um enorme sorriso nos lábios...

Tália



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