Orpheu

Data 16/10/2014 14:13:37 | Tópico: Poemas

-Tenho ânsias, tremores na voz, medos nos olhos, calafrios nos dedos, quando penso nas palavras certas para te escrever um poema. Cantá-lo, chorá-lo, declamá-lo é coisa pouca, mas senti-lo, inspirando a luz que brota da fonte e dissertar sobre a linguagem da alma onde o Verbo se refaz em cada palavra renascida no cerne de um Poema?

- O misticismo em redor do círculo que envolve o Poema, trai o seu próprio movimento. Juntam-se letras, pontos e vírgulas, exclama-se e clama-se por vida entre uma palavra e outra, fora de ordem. Em outros planos onde guardas o pensar, algo te ditará um sentimento. E não, não danifiques o corpo do poema devassando o círculo que o protege ainda em segredos ocultos.

- Vou nadar no rio. Quero ir corrente abaixo até encontrar um ponto similar à trajectória das novas correntes no meu pensamento.Um Universo paralelo com coordenadas exactas para um pensar evolutivo.

-Banha-te na limpidez desse rio. As águas cristalinas trazem partículas de luz que se firmam no alto da serra. Cristais foragidos da fonte onde todos os Poetas choram. Cristaliza as ideias e atingirás a foz. Lá, encontram-se cristalizadas as formas exactas e concretas de uma corrente migratória e não ilusória. Talvez contraditória a tudo o que conheces no Universo poético de agora.

- Divagando sobre a minha inoperância para te escrever um poema, encontro-me nas tuas certezas, mas rimando com incertezas. Definitivamente vagabunda pelas ruas da minha cidade. Num dos muros, um grafiti espelha os olhos esbugalhados, um corpo desmembrado, e as mãos…as mãos na direcção do céu, como quem aponta para a Vida destituída de princípios evolutivos.

- A compaixão, a solidariedade, o Amor incondicional ainda são rescaldo nas mãos. Valores mais altos se levantam....a quererem atingir o topo da pirâmide, sem conhecerem a base de todos os princípios que deram forma à pirâmide.

- Fez-se luz nos meus olhos, firmeza nos meus dedos. A minha voz soltou-se no imediato momento em que caiu nas palmas das minhas mãos, o medo, e se condensou nos traços indeléveis e exequíveis à fermentação do pão.Caminharei descalça sobre a terra ensopada de todos os orvalhos matinais. As minhas pegadas serão rabiscos de um poema invertendo a ordem de todas as palavras escritas com os dedos das mãos.

- Escreverei o teu nome às portas de um céu que ruiu.Soletrarei as ondas do mar nos teus olhos. Verás quão grandioso é o horizonte a abrir-te um novo Universo onde a poesia já foi corrente quente a brotar da fonte de todas as notas líricas, tal como das novas palavras de Orpfeu.


Epifana & Ainafipe



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=280415