
Fúnebres
Data 23/10/2014 15:30:13 | Tópico: Poemas
| Fúnebre é o canto da sereia amordaçado encurralado
Já todos os mares se calaram e todos os ventos tardaram tal como as águas nos abandonaram
Fúnebres são os gestos contorcidos empobrecidos enrijecidos a esmigalharem côdeas de pão
Já todos os relógios caíram da torre da Igreja e todos os tempos migraram tal como arribam as primeiras chuvas pelos campos
Fúnebres são as vestes negras a varrer o cemitério dos vivos delambidos no alcatrão
Já todos os caminhos se fecharam e todos os passos se calaram tal como se abatem os anos sobre os ombros dos caminhantes
Fúnebres são as vozes caladas nos confessionários a contar os actos de contrição
Já todos os altares se desmoronaram e todos os santos se desventraram tal como se esventra à noite a intimidade com a solidão
Fúnebres são todos os olhos à espera de um nome sonante no caminho do vento
Já todos sucumbem da culpa que carregam com a fome de terra com a falta de ar e a sede de água que apague o fogo que os consome
Inflama-se-lhes o ventre obstruindo o canal que atravessa a maior tempestade que já se viu no términus do céu
Dakini
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