Folhas de ciprestes

Data 27/10/2014 15:11:21 | Tópico: Poemas -> Solidão


"... Cérbero não me veria através de cortinas,
nem outros ouviriam o clamor na voz...”

----------------------------------------


- folhas de ciprestes -






Fosse a Hélade cenário deste fim,
passaria cego pela porta de Hades,
ornado de guirlanda seca de folhas
com o óbolo de cobre zinabrado
que me deitaram nos olhos baços,
ignorando os rugidos e uivos do guardião.

Cérbero não me veria através de cortinas,
nem outros ouviriam o clamor na voz.
Deixarei para sempre tantas aspirações
num prego penduradas atrás da porta,
passagem que se fecha sem promessas.

Por que deveria eu continuar insistindo,
abrigando-se eternos que estão no peito
tanto langor da raiva e pelo amor?
Por que suplantar desesperos
já que me esqueceram de tecer mortalha
para abreviar tormentos ?.

Vi mais de uma vez neste arremedo de vida
abaixarem cortinas, fecharem portas,
deixarem-me só, nada decidirem.
Então, vou descer aos infernos
pelas vertentes abruptas dos abismos,
levando comigo guirlandas de folhas dos ciprestes,
- testemunhas silentes dos sepulcros -
como singelas oferendas a satanás.


25102014
--------------------------------------------------------------
©LuizMorais. Todos os direitos reservados ao autor. É vedada a copia, exibição, distribuição, criação de textos derivados contendo a ideia, bem como fazer uso comercial ou não desta obra, de partes dela ou da ideia contida, sem a devida permissão do autor.




Revisto e editado. Publicada anteriormente com o heterônimo LM.mortalha




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=281050