| |  
 
 Arr(anjo)Data 27/10/2014 00:24:55 | Tópico: Poemas
 
 |  | .
 Eu ganhei asas pretas
 invisíveis ao olho cru.
 Quem puder me ver
 alado como cometas
 também me verá nu.
 
 Eu ganhei asas pretas
 de um anjo descaído -
 que é caído mas está subindo -
 para onde nem se lembra mais.
 
 Minha nudez
 é a ausência da memória do anjo
 que chorou, uma a uma,
 as penas das minhas asas,
 pelo fatídico dia da queda.
 
 Nenhum dia após a queda.
 Só noite.
 Só pena.
 Só dó.
 
 As penas da minha asa
 são dilemas,
 desassossegos do anjo poeta,
 demônio arrependido,
 asceta
 com a seta para cima
 do sol,
 do céu,
 apontando sua ilusão de paraíso.
 
 Já foi Pasárgada.
 Já foi o ventre.
 Shangri-la
 e o sol poente...
 
 O céu do anjo é o desejo.
 O querer de cada dia.
 Pão que engulo a seco
 para nutrir minha fome de tédio.
 
 Abro minhas asas negras
 mais corvo que morcego,
 mais anú que qualquer coisa,
 pelado.
 
 O anjo me olha da beira do quarto.
 Sua voz é o riso de uma rabeca
 me contando
 o quanto sou estúpido
 (e também belo),
 com as penas dele
 e sem pena de mim.
 
 .
 
 | 
 |