Ao abandono

Data 30/10/2014 15:29:41 | Tópico: Prosas Poéticas

Ao abandono

Gravito no escuro,
enquanto procuro no breu
da vida acender um fósforo
que ilumine as sombras
que transitam
pelos armários e cabides
em todos os lugares
fatalmente encurralados
onde afinal nunca
me acharás
ou eu provavelmente
nunca me esconderei

Peço somente que alguém
qual prodígio desta vida imensa
simule a tua voz,
o mesmo sorriso
que me é tão lícito reconhecer
brincar depois no planar afogueado
que se acende intransitável nos sonhos
impregnando a luz mágica
soletrada entre palavras que hoje
me marcam como labaredas.

Só o silêncio escondido
na ranhura do tempo
por fim
me chega para comemorar
o facto de que após tanto galopar
a vida
vivemos possuindo, possuídos
com as artérias cheias de perfume doce
meu corpo esvaziado
cremado e deixado ali, monótono
teu retrato encostado na estante
sem mais sorrir...ao abandono
FF


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