... íntimo alimento

Data 31/01/2008 00:47:17 | Tópico: Poemas

Há um luar na folha daquela nogueira
Suspenso
Ralo
Escasso
E nele, e dele, folicular se emana p’la encosta já deserta,
senão vento, então cheiro a musgo espesso, quente,
- líquenes difusos jazidos para além da Constelações de Gritos-,
e ao mesmo tempo
brilhos infindáveis de infinitos,
diamantes aprimorados lentos, à pedra angular dos meus sentidos.

Há além e mais ali, uma trepadeira antiga
bulíciada em chão húmido por sob secular castanheiro.
Dança-se corpulenta e cheia à varanda granítica da serra,
onde dorme a lua afadigada,
da manhã primeira, à tarde inteira.

Existe algures uma fonte num promontório antigo,
(furna, porto d’abrigo, rota de maça principiada)
e de súbito
rítmicas afluem da nascente hidras pontas d’águas.
Desprendem-se em gestos convergidos
nos mistérios linfáticos de pelágica jornada.

[Há ainda, uma avelaneira esguia
branda e branca
donde brotam desabusadas magnólias híbridas
supuradas na mais ínfima sublimação da arte de não ser nada].

Do jardim donde te falo, que estranho de si acresce em mim atento,
a natureza impoluta não carece d’água sol ou vento.
Deste jardim encoberto, amado, tu e só tu, és íntimo alimento.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=28176