Joyce, o deão e o silêncio do fio da adaga

Data 08/11/2014 14:18:15 | Tópico: Crónicas






Tudo o que já foi escrito não deve ser confundido, pois nem Joyce sabia bem da vida de Ulysses. Nem o deão estava interessado nas meninas dos olhos das pupilas do senhor reitor. Com certeza, sei que dia virá que as margaridas despencarão das hastes demarcando o tempo quando não estarei mais com vocês. Jamais poderei saber de antemão se os cabos do telégrafo submarino poderiam ser de algum modo vil confundidos com a cordoalha das minas marítimas.
Por tudo isso é que não exijo a inversão, nem a reinvenção de imagens do passado como forma de deixar impressões indeléveis insertas no caleidoscópio. Quando eu morrer e for enterrado, também não exigirei que usem terno, nem mesmo um paletó de boa grife. Sapatos com tecnologia de ponta combinando com gravatas de fino corte italiano. Sei bem que embora o dia possa não estar ensolarado, podem vir com uma prancha de surfe espalhando gotas de água do mar no tapete acrílico do velório.
Porém, peço que prestem atenção no clima. Se brilhar no céu o sol, continue usando as luvas. A pelica sempre parece acessório elegante, de bom tom e ainda esconde as manchas da idade no dorso das mãos de simpáticas velhotas. Estariam mais preocupadas com a usina de asfalto, refugiando-se em templos fabulosos. Ignoram solertes os conselhos do deão, o perfume da dália e o gume do sabre, cada qual trotando num salto alto, torcendo as ilhargas numa saia justa como saídas da liça de batalha, sem lança, nem lenço, apenas no silencio da adaga em cabido





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