Sonata de caráter triste

Data 13/11/2014 00:56:21 | Tópico: Textos

Se a noite estende no céu escuros lençóis, deixo que neles se deitem meus sentimentos; onde a violência da luz não os pode alcançar.
Imagino estrelas também insones, opacas amantes sem carícias, destinadas ao chumbo da imensidão.
Toco-me como se a um véu de névoa tocasse, branca, etérea, indefinida; vulto espectral que se acomoda na paisagem qual uma palavra morta se acomoda no sepulcro do papel.
As horas noturnas pairam por sobre a inexatidão de todas as coisas, num silêncio justo; vassalas do harmônico e do belo.
Não. Não há medo no medo que sinto. São meus olhos meninos que se mascaram, relatores do avesso de mim, em lágrima e em fel; enquanto observo a plenitude das sombras que se avizinham, posta que estou entre o amanhã e a calma.
Da janela ouço a distância cumprindo seu papel de água, extinguindo suave as labaredas pueris dos meus sonhos, as brasas afoitas desse querer impreciso.
Rendo-me, sem gestos - como se meu coração febril enfim se convertesse, saciado, em pedra, em sal, em escuridão.

Antes de adormecer sinto um vestígio de sol a me afagar o corpo,
pousas os olhos em mim.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=282131