ELES COMEM AZUIS

Data 01/02/2008 03:08:22 | Tópico: Poemas -> Sociais

<br />ELES COMEM AZUIS


Cavaleiros de distantes terras
a viajar por infinitas estradas.

Entradas de estrelas e brilhos
percorrem caminhos tão claros

sempre repletos de fome
(Azuis comem e seguem,

deixando restos de escuros:
sobras de tons acinzentados.

Sim, eles comem azuis.)
Pregam pratas palavras

em púrpuras esperanças,
promessas e abastanças,

abastados fidalgos amantes
transportam na garupa de seus corcéis

elegantes senhoras
(De fomes iguais comem

de fomes a mais
de bela estética compõem-se:

trazem nos alforjes tratados canônicos
de idôneos autores —

e falam da ética com a mesma elegância
com que cuidam a fonética).

Comem azuis
certos de que o mal não lhes entra

o coração repleto de tons.
Falam palavras azuis:

Belos altruístas, performistas,
artistas de refinadas retóricas,

Teóricos clérigos carregam verdades
(E comem azuis...)

Afinados ouvidos em cristais, diapasão,
ouvem atentos ao que lhes sopra o vento...

Atentos... Sempre atentos...
Ouvem e apregoam, proféticos,

o sopro supremo e extremo
da chegança liberdade,

sempre a favor (sem dor ou clamor).
Elegantes, sempre, em seus corcéis

(Sob seus galopes ávidos estão
aqueles que azul não têm.

Sobram-lhes migalhas fartas
daquele escuro deixado caído ou tombado

por descaso ou larga cortesia
das benfazejas senhoras

que, prenhes, estão de azul).
E a terra. Ah! a terra que não se encerra

encharca-se de verde e musgos
e limos e lamas dos restos

e restos de sobras e sombras
gestando no seio, esteio do peito,

da carne que se avermelha em barro.
O lírico alvo (delirante meta)

completa ode como encanto
sem engano ou desencontro.

Sopra vento forte de escuros:
Azul não brilha (prata esfria)

onde luz não há:
Brotará refulgente, urgente,

Vermelhos reflexos iguais.



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