Ensaio de uma Solidão

Data 29/11/2014 04:23:12 | Tópico: Poemas

















Ensaio de uma Solidão


não me lembro quando
você ficou parado naquela esquina
e eu parada na calçada
momento decisivo
parecia que chegávamos a um ponto
em que eu tinha muito medo
de prosseguir
todas aquelas nossas verdades
ditas e declaradas
as cartas escritas, as emoções,
a troca das fotografias
da rotina diaria
a voz rouca, os segredos, a cumplicidade
aquela ânsia louca que subia
pela garganta
e fazia tremer o corpo...

não me lembro quando
eu ficava a olhar para você
sem querer virar aquela esquina
o racional me dizendo:"vira!"
e seus olhos me dizendo:"fica!"
e entre a razão e a emoção
paralisaram-se os sentidos
seus cabelos soltos ao vento
sua figura frágil, terna, suas mãos estendidas
sua boca murmurando sons incompreensíveis
e seus olhos...ah! esses seus olhos
navegavam ternos nos meus
meus pés pareciam plantados no chão
e ali estava um impasse

como um filme passaram-se nossas lembranças
seu rosto, seus abraços, sua ternura
sua voz cálida contando suas amarguras
e minha voz vestida de veludo, sussurrando...
e eu sabia que teria que ir
era o momento certo, era a lucidez
que doia dentro do peito, como ferida aberta
e a sua ausência transformou-se em coma diário
quando minha mão pegava o telefone
ouvia sua voz, e não dizia nada

mas eu me lembro quando
virei aquela esquina tão repentinamente
e meus passos nunca pareceram tão sozinhos
e minh'alma nunca se sentiu tão abandonada
virei a esquina da razão
pisei em meu coração
e hoje restaram palavras mudas
um buraco vazio e uma enorme solidão



*Mary Fioratti*













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