
Dou-te
Data 02/02/2008 09:03:43 | Tópico: Poemas -> Amor
| Dou-te o meu pé de laranja-lima, amado, aquele ali, a oeste do Jardim, virado ao Sol da manhã, por sobre o qual bordei p’la minha mão, o linho alvo, o cetim e o algodão, em luas de anil e de jasmim.
Dou-te cada pé de salsa, cada folha tenra e verde - segurelha brava, poejo ou hortelã -, com que ungi o corpo e alma, em delonga noctívaga.
[dar-te-ia tal-qualmente cada afago, no beijar-te, bago a bago, sendo pele de carnuda romã…]
Dou-te ainda o tempo lato, este que se esfuma lesto, ingrato, quando me demoro em espera (e na espera recidiva) sempre compassiva de tão terna, sempre lenta (e tão sedenta) e de que, (e)terna, amado, sinto que já pereci no devaneio romanesco, no deleite mais extremado, no anseio desvelado, de ter o meu olhar, em teu olhar espelhado, o meu corpo, no teu corpo enroscado, no teu corpo fundido, no teu corpo enleado, no teu corpo cerzido, na loucura mais escaldante, na ternura mais ardente … eternamente.
Aceita-os, que, se em espera morri, sem ter o meu sorriso no teu sorriso colado, este é meu espólio latente, meu singelo legado.
[dá-me a tua mão, amado olha lá longe, vê o céu: está negro, e sendo negro, mais belo é, de tão estrelado …]
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