O Sussurro

Data 14/12/2014 15:58:02 | Tópico: Textos -> Outros

È estranho entrar pela porta desta escola, vaguear por estes corredores e olhar em volta enquanto sou invadida por memorias de um passado que me parece tão distante. Memórias que me fizeram rir, chorar, acreditar ,perder a esperança. Mas todas elas são parte de mim. Vejo o que ficou para trás, mas também tudo aquilo que este lugar me trouxe para usar no meu futuro. Olho para cada recanto, e não existe lugar que não tenha uma história para contar... Se estas paredes falassem... Entrar aqui, é como entrar numa cápsula do tempo, As salas e as mobílias são as mesmas, mas cheira a tinta fresca, foram pintadas de novo. Apenas as pessoas mudaram, e talvez seja isso que torne tudo um pouco diferente. A vida mudou, o tempo não esperou por ninguém, nem as pessoas que faziam parte dele. Apenas algumas permaneceram. E mesmo assim , não consigo deixar de ter um sorriso aberto e espontâneo de verdadeira alegria em estar aqui. Porque por mais que o tempo passe, este lugar é um pouco meu e em todo o lado que toco, existem flashbacks de momentos que nunca esquecerei.
Acho que estou pela primeira vez completamente sozinha numa sala de aula enquanto escrevo. Sem ter que me preocupar que a “contínua da escola” venha reclamar comigo que não posso estar ali. Mas mesmo assim sinto-me como uma miúda a quebrar uma regra indiscutível. E é tão bom sentir-me assim. Sinto pela primeira vez em muitos anos aquilo que já não sentia já desde aquele tempo: motivação, energia, concentração, vontade de pôr á prova as minhas capacidades, e dar o meu melhor para além daquilo que penso ser possível. Ansiedade por mudança e por um futuro escolar bem melhor do que tinha.
E isso leva-me a pensar sobre o passado e o presente. A pensar em todos os contratempos, ao facto de ter demorado a estar aqui novamente, e cheguei á conclusão que não me arrependo do tempo que demorei. Porquê?
Porque simplesmente antes não tinha que ser, porque todos os eventos da nossa vida acabam sempre por nos levar ao lugar onde realmente deveríamos de estar. Mais tarde ou mais cedo damos por nós a pensar no quanto estamos felizes de ter tomado aquela decisão e a termos a certeza e a convicção do que queremos. E isso é estar no lugar certo na altura certa e quando tem que ser. Não quando os outros querem ou nos exigem isso porque de acordo com a sociedade ou de acordo com as crenças de cada um tem que ser, ou até mesmo por vezes quando nós queremos. Mas sim quando a altura é a verdadeiramente certa.
Por isso hoje era suposto eu estar aqui. A tratar do meu futuro, onde fui realmente feliz, e onde tudo parece fazer sentido.
Subo as escadas, olho para aquelas paredes, para aquelas portas, e numa delas vejo uma pequena luz. Aproximo-me da porta devagar, e pouso a minha mão na maçaneta da porta. Quando a abro oiço o sussurro de Damião de Goes.
“Bem vinda de volta!”


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