Falsidade....

Data 16/12/2014 22:22:12 | Tópico: Contos

Acordei. Olhei a janela. Lá fora um transeunte, passava pela manhã clara e fresca de mais um dia de Inverno. Segui-o com o olhar, este transportava um semblante taciturno e inócuo.
Voltei para dentro. Não fisicamente, essa parte de mim ainda se sentia a dormir, mas sim no pensamento, esse ia longe, passava na rua lado a lado com o indivíduo que havia observado. Se a minha mãe aqui estivesse estaria a admoestar, sei como ela detesta este meu espírito sonhador que viaja pelo recôndito facilmente.
- Ding Dong!! - A campainha toca.
Desço apressadamente as escadas, barulhentas de madeira escura e envelhecida. Odeio que me interrompam as reflexões, podem parecer de alguém ignóbil, mas para mim, detêm muito valor. Seja quem for. Vou ter de a defenestrar, não estou acordado o suficiente para receber quem quer que seja. Olhei pelo monóculo. Abro a porta.
- Olhem só! Se não é o famigerado Artur! – Proferi com um tom irónico e uma expressão arrogante, na tentativa de que este compreendesse que era indesejado ali.
- Vim só deixar o que a tua irmã me pediu. – Disse o Artur com um tom desentendido. Deu-me a caixa às mãos e foi embora.
Artur é o pedante do meu cunhado, vive a enganar a minha irmã. Todos sabem, até ela, mas ninguém se digna a fazer nada. Nem eu. Falo, critico. Mas no que toca a tomar medidas, nunca fiz nada para o impedir de a tratar assim.
No fenecimento desta história, apenas resto eu e a minha família, aquela à qual pertenço e a mesma que passo a vida a criticar, pela sua hipocrisia e cegueira; E eu que, no fundo, sou tão ou mais cego e hipócrita que eles, vivo das minhas reflexões e sonhos, do meu mundo utópico, do qual me nego a sair e enfrentar a dura realidade.


iP




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