Os dias corriam vagarosamente, deslizando em cascata pelos degraus de pedra como que acariciando o musgo aveludado que os cobriam. Ali, algas e liquens se misturavam no gramado, impedindo que as senhoras idosas ficassem com os cotovelos fincados nos parapeitos das antigas janelas senhoris. Cronos, dono absoluto do tempo e das horas mostrava-se implacável, seguindo caminhos às vezes tortuosos, percorrendo as paredes de tijolos, numa sinfonia de fogo, ar e terra espalhando-se como centelha na palha seca.
Não podem dizer que é minha culpa o fato de não ter nada para fazer além de escrever estas palavras. Em que pese ter cortado o cabelo recentemente, os botões da minha camisa são de metal e costumam cortar a linha que os prende ao tecido. Vez ou outra, desnuda o umbigo, o que confere um ar um tanto despojado, para não dizer, relaxado. Porém, nada disso importa quando as cartas chegam ao destino coreto e as primaveras florescem nos jardins públicos a despeito da falta de rega devido à crise hídrica que ora atravessamos.
Meio que sentindo uma invasão em meus sentimentos mais arraigados, converso com minhas algibeiras, já que meus botões estão ocupados conferindo a costura. Não ficaram bem com a linha verde prendendo-os ao pano, mas combinaram com os saltos dos borguezins de cromo e com o par de meias italianas, mas de estampa escocesa.
Tempo e água correndo pela pedra tentam esconder a luz de maneira a modificar o figurino clássico. Tiram os peixes dos bolsos e atiram nas corredeiras, tudo feito às claras e sob olhos plácidos de pintassilgos acasalando num canto qualquer do jardim em flor. Pode ser que não consigam com muito êxito nadar através das pastas de papeis arquivados, mas sempre existe algo positivo, já que distribuem mais sorrisos que comercial de pasta de dente.
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