Para trás não olharei - Introdução a Escombros - III (Moacyr Félix)

Data 23/12/2014 19:32:38 | Tópico: Poemas -> Introspecção


Para trás não olharei: falo assim como poeta que tenta trilhar definidores caminhos e verdades desta Terra.

E minhas sandálias serão como tesouras afiadas no
[manto de minha tristeza.

Para trás não olharei,
e a minha ternura repousará na úmida relva o silêncio
[oco dos cântaros.

Assim aguardarei o orvalho, serei um encontro amoroso
[com a chuva.

E o sangue de minha inconsolável saudade ficará pelos
[caminhos,

lá, onde as eras imensas se esquivam às perguntas da
[mente.

Estenderei, todavia, as fronteiras de minha vida para os
[planetas distantes

e, sob o canto dos pássaros e a divagante palidez dos
[antanhos, ela amanhecerá

meu ser entre os espinhos e as flores do que eu tentei e
[tento

sonhar e pensar como poema a favor de desalienações
[na história humana.

Moacyr Félix, In: Introdução a Escombros, Poema III, Ed. Bertrand Brasil, 1998, p. 120-121.

Imagem: René Magritte - The Glass House.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=284743