Vida sofrida

Data 26/12/2014 20:25:00 | Tópico: Poemas

Juazeiro, com a queda de um raio nunca mais floresceu ou daria mais os seus frutos e chora a natureza novamente, deitava-se a sombra um garoto pequeno, todos os dias para dormir ou descansar das tarefas do sertão. Teve sorte em ter um lugar como aquele que agora não existe mais.
Tornara-se um banco. Ao menos o menino continuara em sua companhia. Seu tio se admirava ao vê-lo se acomodar, dormir naquele tronco e nunca ir ao chão.
O garoto tinha também como companheiro, Dolopo. Um cachorro de caça muito bonito abandonado pelo vizinho que passou a odiá-lo e também porque fora atacado por um porco espinho, criando bicheira em uma das orelhas. E todos os dias o cachorro encostava as portas de sua casa e arranhava com as patas como um pedido de ajuda.
Mas a doença não curava e percebendo o seu sofrimento, o tio deu-lhe uma tarefa muito difícil de resolver.
- Menino, você que mata um cabrito como ninguém dê um jeito nesse cachorro. Ele sofre muito.
Assim era o sertão e o homem. Entender o verdadeiro significado para aquele tipo de vida. Doía muito ao coração ver a criação que sofre de fome ou sede e muitas vezes dava pena de se desfazer de seus animais que sofriam a míngua.
E para o menino o sacrifício, era a pior solução. Pois Dolopo o acompanhava em todos os lugares e lhe dava muita alegria. Possuía um amor incondicional àquele cachorro.
Triste, o menino saiu pela mata não entendendo porque teria que decidir quem deveria ou não viver. Mas, carregava consigo o modo de como uma pessoa vivia naquele lugar e ao qual se deve imitar e cultivar.
As primeiras lágrimas escorriam pelo rosto sofrido. Abraçou o amigo por longo tempo. Deveria de ser rápido e indolor. A respiração foi sessando devagar até que os pelos brancos de Dolopo se assentaram.
Foi deixando para trás um rastro de saudade e de alegria que Dolopo havia lhe proporcionado.
Via agora mais um ente querido que se foi.



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