Cansa-me

Data 04/02/2008 09:21:21 | Tópico: Poemas

Cansa-me
este vento inclinado sobre aranhas,
as teias defectivas
onde moscas entediadas se mascaram de toutinegras noctívagas.

No Carnaval das coisas, cansa-me
esta luz sem brilho, sem chama, sem formigão,
esta luz doente
moída em mós de tempos,
na impassibilidade de farinação florescente.
[Não, não gosto de lâmpadas florescentes.]

Hoje o dia não nasceu aqui, no Moinho de Maré.
Sentada no sapal
olho para além das salinas, o rio, de lés a lés.

Aguardo a preia-mar, a subida das tuas águas, em represa de mim.
Rebusco da lua, a amplitude, a largura diferencial
capaz de te guiar de novo, alva farinha, pão do meu bornal.

Em engrenagens enxugas de ferro
cansa-me
o esquema de multiplicação em que me fundo
quando ensandeço sendo rastilho de um mundo em contra mão.



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