
Eu, Évora e a solidão …
Data 29/01/2015 14:17:28 | Tópico: Poemas
| É noite … Évora faz silêncio. Caminho-a na penumbra, meio triste, meio esquecido … Sozinho, em direcção, não sei de quê – vou! E vou em vão! Ou não! Talvez vá, bem sei … Mas indo irei eu a parte alguma?! Não sei! A parte incerta irei, por certo! Mas irei … irei … Que os meus cansaços não me turvam, nem me toldam, nem dominam! Irei! Irei! Caminhando pela umbra … vou além … onde não cheguei ou alguém foi. A avenida, o Hospital, carros a passar, um caminho sinuoso por passeio, árvores sem copa, folhas, tantas folhas - secas - pelo chão … que piso! Triste quadro. Minha vida. Pobre vida. Eu, tão grande, “doente”, a pé, só, por caminhos, tristes, sem tectos, caminhando sobre folhas, secas, esperanças fugidias … sou eu! Sou eu! Um ser obsoleto! Alguém que sobra! E é noite, cerrada – madrugada, infeliz. Só eu e nada, Évora e a minha solidão. Eu, meu coração, Évora e este “chão”... E piso a noite, passo, num passar que pisa a solidão. E piso a vida, vou, num ir que parece ser em vão! Mas vou … E nunca, nunca aprendi a existir! Esta dor de fora fáz-me exacto por dentro! Só ela! E isso que vos importa?! Nada! Digam-no! Das mãos de Deus o aceito, de vós o aceitarei, sem reservas ou lamentos, que tudo tem seu jeito! Terá?! Quem sabe?! Tenho que ir … se o quero saber, terei que ir … deixando p'lo caminho os “corpos” de toda gente. E dói-me o meu destino … Não posso esperar por ninguém! Pois não posso estar morto quando a morte vier! Quero que ela mate em mim um vivo! Por isso, vou, e deixo os “mortos” no caminho. Os meus mortos! Que estando vivos, são mortos! Mortos! Meu caminho é por mim, é em mim, por mim fora, de mim a mim … E quem quererá ouvir ou entender este espírito de coragem?! Quem?! Onde?! … Se eu próprio o não entendo! Se eu mesmo o não desvendo e desprezo! E vou … indo … em frente … Sequer olho para traz, que a saudade, rói meu pensamento, transformando coragem de ir, só, em medo, ausência e lamento! Não serei a estátua de sal das escrituras … E não olho … não olho … e vou … e irei … sempre … Em frente! Só! Em frente!
Ricardo M. Louro em Évora
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