Qual será o preço por teu fingido apreço? Desses, que logo se esquece, assim que amanhece? Ou daqueles mais caros, que pagam os prazeres raros e dos quais só se esquece, quando a alma apodrece?
Quem fez tua sina de ser a puta da esquina nessa rua da Madame cafetina? Quem te pôs sob o gringo pedófilo? A miséria da orfandade, ou só a falta de caridade? Ou foi o sonho em neon da Cidade?
Quem te pôs sob o velho tarado? Qual foi o teu pecado para purgar nesse leito errado? Ter o sonho comum de adolescente: comida, roupa e aparelho no dente? Ou foi a ousadia de querer diferente, onde o estômago não fosse tão urgente?
E, agora, só sonhas que o falso penitente seja o último cliente?
Tantos sonhos (talvez) e tanta culpa. São teus os primeiros. É minha a segunda, por compor essa sociedade vagabunda. Sociedade que entrega as suas filhas e se isola em redomas e ilhas para nada ver, nada escutar. E, depois, contigo deitar.
Fecham as janelas por te temerem (ou para não se reconhecerem?) e vociferam suas ladainhas, mas aliviam-se com cesta-básicas, vale-transporte e latas de sardinhas.
Usam teu corpo e matam a tua alma. Suja, continuas na rua. Querem-te nua. Sem Alma continuas na noite. sob o jugo do Santo Açoite. A puta da esquina, a quem se dá uma dose de estricnina.
Qual será teu destino, forçada libertina? Até quando, brasileira menina?
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Verão de 2015.
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