… há qualquer coisa

Data 05/02/2008 20:03:23 | Tópico: Poemas -> Surrealistas

Há qualquer coisa de estranho
nas luas sem árvores
habitadas dentro das memórias em que me vergo
e onde te vejo
à janela recta do teu mar.

Há qualquer coisa, estranhamente íntimo,
nosso,
supremo e derradeiro,
neste tempo em que me sento ausente,
aqui,
e sou,
e és,
e somos, flores líricas de papel,
buriladas à pedra tenra das palavras.

Há uma lucidez (de)mente
no verbo estampado em cada dedo,
tal arado indomável de várzeas em mãos abertas,
na senda d’águas convergidas, génese de nossas vidas.

Há qualquer coisa maior que nos respira
em pulmões batráquios de plantas com guelras,
que se emancipa e nos desconcerta
quando nos experimentamos
e no vácuo nos amamos (tanto)
na fome, na míngua,
na lágrima e logo pranto,
e nos enleamos d’hossanas homéricas, de cantos profanos,
e somos, tão-somente, amantes, átomos livres,
viajantes pendurados em lagos pré-inscritos p'lo degelo rápido dos sentidos.

… há qualquer coisa, imenso e sem tamanho, no tamanho infinito!




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