
A parada na estância
Data 07/02/2015 11:50:02 | Tópico: Poemas -> Reflexão
|  nada mais havia, só o antigo pote de terracota era o único dote
já não mais chovia, o dia quase morria as portas do barraco rangiam ao vento
no outro lado da rua um senhor me espiava acho que me conhecia acenou com a bengala
quanto tempo fazia nem bem eu sabia afastado da vila há longa data
a porta não tinha tranca ou fechadura o ferrolho colado de tão enferrujado
tomei enfim coragem após respirar fundo a gostosa aragem que vinha do prado
ao entrar, surpresa estava tudo tão limpo o fogão, achas de lenha e uma caixa de fósforos
bela e intrincada teia, tomava a janela de madeira onde tomava sol a aranha, a rainha da casa abandonada
olhei tudo em volta era tão organizado que pensando ser fantasia apliquei um forte beliscão
fui assim me dando conta que algum anônimo cuidara daquele espaço precioso em um lugar tão remoto
jamais imaginei este cenário tampouco que um dia retornaria após a partida do último irmão que se tornara um ermitão
de repente, aquele senhor que a tudo em silêncio observava me aborda na porta de entrada, "posso ter a honra de lhe ajudar?"
parecia um velho guardião daquele estranho rincão onde passei a infância, na divertida estância.
mas onde estavam todos? não via qualquer movimento lá estavam os casebres vazios calmaria, paz era o sentimento
deixei as malas na banqueta e resolvi caminhar pela pradaria o senhor cofiava a longa barba e amavelmente me sorria
após longa caminhada, exausto sentei-me no antigo banco, o anoitecer tingia o céu tons alaranjados, como um véu
sem perceber ali mesmo adormeci após gostoso cochilo, senti o forte aroma de chá de marcela, que o bondoso senhor me oferecia
depois de sorver o delicioso chá eis que o senhor que pouco falava disse-me que fosse agora descansar para na manhã seguinte cavalgar ao levantar-me e mirar excitado o belo sol nascente emergindo da pequena colina verdejante preparei um café bem quente
logo em seguida, um suave toque de flauta, velho senhor já de pé acena-me, é hora da partida então preparei a mochila,
olhou-me com carinho e atenção, recomenda que leve só o cantil d´água, estranhei, mas atendi sem discussão ele se apoiava em tosca bengala
andávamos há algumas horas, em silêncio contemplativo, ao longo do vale e córregos quando ele parou, de súbito:
- aqui eu retorno, caro amigo recoste-se nesta figueira, observe o canto do pintassilgo, ouça o murmúrio da cascata,
que nada lhe atormente, como uma folha sinta-se leve, em breve chegará o sinal seguirá viagem a estação final...
ah, você jamais estará só, agora relaxe, não se preocupe, então desapeque-se de tudo apenas e tão somente sintonize
voltarei a velha cabana chegarão novos hóspedes, há pequenos rituais que consagram a vida...
ah, pode me explicar, como assim? indaguei de forma curiosa, ele sorriu, fez curta pausa, - evolução, meu filho, é isso enfim!
AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 7-Fev-15.
|
|