LEMBRAS-TE LIDIA ?

Data 06/02/2008 10:13:41 | Tópico: Poemas -> Amor

Poema dedicado a uma tinha minha e unica, que depois da morte de meu pai, tinha eu então 4 meses, ajudou minha mãe a me criar, hoje idosa e doente


Oh Lidia!...
Lembras-te quando eu era pequenino
Era eu moço e menino
E ia ao Beato psssar férias?
Nas camionetas da Portugal e Colonias
Do Brito, hoje a Naciomal
Todas cinzentas sem portas
Mas como era viagem sensacional
Saía de Sacavém, como era longe Lisboa!...
Entre o condutor e o ajudante
Lá ia eu todo contente.
Os avós, os tios as tias os primos
E primas, esperavam por mim
Abraços e beijos à minha chegada.
Tudo se passava assim
E como eu ficava feliz!
Mas no dia seguinte
A nostalgia assim o quiz,
Sentava-me nas escadinhas,
Do Pátio da Quintinha
As lágrimas corriam ligeirinhas,
Pensava no meu Vasquinho
Irmão de quem eu tanto gostava.
Longe dele, nem um só momento.
Um dia já era muito tempo!
Mas no dia seguinte
Tudo mudava, como o vento.
Ficava com alegria
De estar na vossa companhia.
Lembras-te Lidia.
Quando iamos lá para a quinta
Apanhar gafanhotos?
Riamos corriamos,
Por vezes marotos!...
Mas a nossa juventude
Era mesmo assim
Estavamos na plenitude.
Lembras-te Lidia...
Quando o tio José
Me comprou um balão?
E sem compreender porquê
Tu ficas-te ciumenta.
Eu nele, comecei a soprar
Com um sorriso com pimenta
Para os teus ciumes picar.
Soprar... só podia ser eu!
Sopra mais!... ainda mais!...
Sopra mais ainda... ainda mais e mais...
E eu pobre pateta
Deixei-me ir na treta
E o meu balão rebentou!
E a fúria que me deu!!!
Atirei-me a ti... bati, bati, bati,
Tu rias, rias, mas fui eu quem as pagou!
E quando à noite antes do deitar
Iamos todos para o quarto,
Era obrigatório rezar!
E nós, cá atraz, entre portas
Riamos a bandeiras soltas
E não ligavamos nenhuma!
Mas o avô, na sua oração
A isso não dava atenção.
E como havia pouca luz
O avô nem sequer supunha
Que nós só faziamos o Sinal Da Cruz.
E quando eu, como o Laurentino
Fumavamos os nossos cigarros?
Iamos apanhar beatas,
Nos carros eléctricos do Poço do Bispo.
Desfeitas, metidas em latas
E o tabaco era assim aproveitado.
Mortalhas? papel de jornal
Até que um dia o avô descobriu
Deu-nos um par de galhetas
E as latas, ninguém mais as viu.
Mas que saudades desses tempos!
Mocidade sem responsabilidade
Mas também sem maldade,
Sem desgostos, sem dôres,
Sem gripe Asiatica, sem ciática.
E os jovens de agora?
Nada a ver com os de outrora.
Sem trabalho, sem futuro, sem ambição.
A droga é o maior senão.
Meu Deus, faz com que eles
Venham aos nossos tempos.
Que rebentem balões
Mesmo que se zanguem com as tias,
Mas que na vida não chorem
Mas riam, riam, riam!

A. da fonseca



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=28756