Castelo de Juromenha Parte 1

Data 10/02/2015 18:20:42 | Tópico: Textos

Lembro-me quando cheguei ás portas daquele castelo, senti-me como se já lá tivesse estado antes. Pensei que talvez, se fechasse os meus olhos e procurasse na minha mente esse momento, me lembrasse quando foi. A verdade, é que quando o fiz, algo incrível aconteceu. De um momento par a o outro, conseguia cheirar a erva fresca que me tocava nos dedos dos pés, sentia no ar o cheiro de fruta fresca acabada de apanhar. E se estivesse completamente em silêncio, conseguia ouvir musica vinda de dentro do castelo, o riso das crianças e das pessoas a conversar na rua.
Assim que abri os meus olhos, vi o chão escurecer á medida que ia construindo um caminho que me levava até á entrada do castelo. No lado direito, estava o rio; a água brilhava devido á maravilhosa manhã de sol que se avizinhava parecia que por todo o lado haviam espalhados pequenos diamantes. Alguns navios aproximavam-se, quem sabe talvez, para trazer iguarias, ou então, talvez estivessem apenas de passagem.
Do lado esquerdo, podia ver o imponente castelo que parecia indestrutível, defendido pelos seus guardas que procuravam constantemente por algum intruso que tentasse passar pelas suas muralhas sem autorização do rei. Todos eles estavam bem armados, as suas armaduras também brilhavam ao sol. Mas conseguia perceber que cada uma delas tinha detalhes diferentes que muito provavelmente ditavam o seu estatuto. Tinham também as suas belas espadas laminadas a prata e a ouro que regalavam o olhar de qualquer um,
mas que ao mesmo tempo, impunham respeito pela sua letalidade caso alguém se aproximasse sem ser convidado. Um dos guardas, dava ordens aos outros e os restantes, que carregavam nas suas costas aros e setas, vigiavam das suas torres toda a área do castelo. E tinha a certeza que passariam ali dia e noite para defender a honra do seu reino e do castelo do seu rei caso assim fosse necessário. Decerto que a família real estava em casa para haver tanta protecção.
Quanto mais me aproximava da grandiosa porta do castelo, mais conseguia ter uma ideia da movimentação que havia dentro do castelo; havia muita gente na rua. Comecei a ficar ansiosa, será que conseguiria entrar? Mas eles não pareciam dar pela minha presença, por isso, aproximei-me ainda mais, e quando o fiz, a musica começou a tocar mais alto, as vozes ficaram cada vez mais claras assim como os risos que por vezes se escapavam pelo ar. Para além disso, intensificaram-se também os cheiros... havia cheiro a comida no ar. Era uma mistura de carne e condimentos misturado com um pouco de cheiro a lenha que talvez estivesse a ser queimada para ser possível cozinhar. Mas o melhor de tudo, ah o melhor de tudo era o cheiro a pão quente acabado de sair do forno.
Aproximei-me ainda mais da porta, e como os guardas não deram por mim, não me fiz de rogada e encostei a mão á porta, e mais uma vez, tudo se transformou para além daquilo que pudesse até imaginar.
Havia tantas pessoas dentro do castelo, uns guardas descansavam mesmo ao lado da porta, um bocadinho mais á frente, consegui ver um grande mercado onde haviam pessoas de todas as idades que vendiam todo o tipo de coisas. A primeira coisa que notei, foi uma senhora que devia de ter os seus quarenta anos que vestia um longo vestido castanho e envergava um avental branco na cintura, regatear o preço de uma galinha que teimava em não se deixar apanhar pelo senhor que a estava a tentar vender. O senhor aparentava ser um pouco mais velho, talvez sessenta e alguns anos, longa barba e cabelo branco, e com uma grande cicatriz na sua cara. Talvez de alguma batalha? Talvez anteriormente tivesse sido um soldado? Ele sorria para a senhora que não parecia estar a achar graça nenhuma ao preço da galinha, mas as atenções de um momento para o outro, foram desviadas para um pequeno rapaz que nesse momento de distracção do senhor e da senhora, decidiu roubar alguns ovos que ela também tinha comprado. Gerou-se a confusão, a senhora e o senhor a correrem atrás do rapaz pelo castelo fora, enquanto ele fugia com os ovos na mão. Parecia quase tirado de um filme.
Enquanto isso, eu, distrai-me com as dezenas de frutas, vegetais, animais, mercearias, roupas, que toda a gente parecia querer vender. Até os mais pequenos já aprendiam com os pais como vender e a discutir o preço com o cliente. Enquanto isso, outras crianças corriam por entre os adultos e brincavam ás escondidas. E reparei também, em algumas tabernas que haviam ali á volta de onde vinha um intenso cheiro ao que parecia ser algo similar a cerveja. Um pouco mais á frente, estava uma igreja. O sino começou a tocar. Parecia uma igreja muito antiga. Toda pintada de branco e apenas com uma barra azul por baixo. As pessoas pareciam estar a aproximar-se para entrar. Parecia realeza pela forma como estavam vestidos; quase parecia roupa adornada com ouro. Eram magníficos os fatos, os vestidos, os tons de azul, vermelho, castanho, a fantástica joalharia. Eram quase de certo amigos e família do rei e da rainha. Se olhasse um pouco mais a cima, havia uma pequena casa feita em pedra que tinha apenas duas janelas e uma porta feita de madeira preta e ferro. Ao aproximar-me para ver melhor, no ar, havia um intenso cheiro a metal a ser derretido. A casa parecia ter dois andares, mas no andar de baixo, por cima da porta dizia. Ferreiro. Abri um bocadinho da porta, e olhei lá para dentro. haviam todo o tipo de armas e armaduras espalhadas por todo o lado ao longo da loja. No entanto, no que tocava aos instrumentos de trabalho, pareciam estar todos organizados de forma a saber sempre onde encontrar o que precisava. Havia uma grande lareira que estava apagada, e um forno onde o fogo crepitava insistentemente. Por momentos, permaneci ali a olhar para as chamas. Até que ouvi um barulho atrás de mim.
- Posso ajudar?

(continua)



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