A chuva, a que me caí na alma, aquela que nunca seca; aquela que caí até nos dias soalheiros, quentes e afáveis e me torna molhado por dentro, dando-me vontade de tudo, menos de sorrir. A chuva que hoje caí, neste dia tão cinzento, e que me deixa o corpo molhado, é incomparavelmente mais aprazível, deliciosamente aprazível, do que aquela que me molha a alma! Encharcando-a! Tornando-a fria, gelada... como se ficasse inerte e assim quisesse permanecer! Ser poeta, até morrer, não fará de mim um fingidor. Não me sinto dono e senhor, da outra parte de mim. Hoje acordei assim... introspecto, estranho, sentindo a ausência e o tamanho da lonjura, sem os devaneios saborosos do amor, no céu da boca. Quando por vezes chove... encharco-me do poeta que nunca serei.