
Isä en ole koskaan ollut
Data 19/02/2015 14:24:06 | Tópico: Poemas
| "...o trabalho de um homem não é mais que esta lenta travessia para redescobrir, pelos desvios da arte, aquelas duas ou três imagens magníficas e simples diante das quais seu coração primeiro se abriu."
Albert Camus
Se me maravilham palavras novas, é que de muito antes as conheci é que me queima o coração e faz fuligem das artérias é porque perco a mim mesmo toda tarde e conheço todas as letras do que me salvaria a alma Mas não sei como percorrer o caminho A sinuosa estrada da cidade fantasma As mãos que me banham numa antiga lagoa purpúrea
Eu me deixo perder à noite, Mas dou de frente com o reencontro eventual Quando me surge à vista um ou outro mágico personagem secular Quando entrego as mãos às cegas e penso em deixar-me conduzir E desta vez muito me aquece o pensamento De que finalmente tenha alcançado a magnânima virtual solidez De que me perdi todos esses anos só para que se tornasse mais belo, o momento em que fosse, por fim, encontrado
Os movimentos das tuas palavras a mim acalentam O vento que sopra aos raros cabelos de um enviado ancião Anjos e demônios batalhando ao céu aberto, incessantes sobre dias e noites Argúcia de um espírito que já conhece o seu alimento Lamentarei e chorarei baixinho pelos anos que, sozinho, me perdi por entre as altas relvas selvagens da solidão? Ou aceitarei as asas que me ofereces para que eu, estonteado Alcance e cruze os derradeiros céus?
Só se teme a morte quando não se tem a sorte De deixar-se dormir encolhido e absorvido Pétalas duma doce brisa que extermina o cansaço Deixar-se viver fora do que aqui nos encarcera Através daqueles primos e tios e amigos todos Eles rodearão tua cama de moribundo Mas que tentes não se deixar partir legando lágrimas Que viverás ainda em cada pequena parte do mistério que é este vasto mundo [tão pequeno]
Eu sentei-me à tarde e quase me deixei perder A observar a imagem ensolarada de tudo o que sempre quis O deleite da simples possibilidade do impossível Meus anos de menino imberbe e esquecido Meu espírito como uma seta que à imagem aponta Minha garganta - conveniente fortaleza contra meu vagido Flutuando e observando do alto da fantasiosa balaustrada Querendo, ainda, viver; Viver!
Viver, sim, para encontrar todos aqueles rostos E rostos novos e frescos todos os dias Os sobreviventes deste mundo, desviando das balas perdidas Da falta de amor, dos carros enlouquecidos das avenidas Banhando-nos das lágrimas dos bebês esquecidos nos bancos de trás Das lágrimas antigas duma história dolorosa que aqui deságua De lágrimas quaisquer que da dor universal se extrai Viver, ainda!
E ainda errar todos os dias [até que se acerte] E cair todos os dias [até que chegue o dia de erguer-se] E desejar impossibilidades, afogar-se em ansiedade Até que se descubram os mistérios do Fantasma Se o Universo é mesmo infinito para as quatro direções Continuarei a percorrê-lo até que não tenha mais pés com que andar.
|
|