Os sonhos também têm a palavra fim

Data 10/03/2015 04:49:27 | Tópico: Poemas

Hoje a noite não é minha
nem do sono que me abandonou
os sonhos viajaram para um lugar longe
e o longe é tão difícil de lhe tocar…

Foi o luar e meia sombra
que envolveu toda a minha insónia!

O travesseiro está cansado
já não ouve nem fala
repetiu imensas vezes
direções ignoradas
que agora já nem apara
as lágrimas que não choro…

Hoje a noite não é minha
nem meu é o sonho que abracei
desvanece-se tudo
numa tempestade desértica
o olhar está cansado
são tantas a aparências
num tempo de Inverno duro…

É noite…está frio
as sombras alegram-se
acenam ao luar
que eu não encontro…

Perdi a noite…o sono
os sonhos
gritam os silêncios
com tantas verdades…

Enrolo-me para não ouvir
fecho os olhos para não ver,
e o que faço para não sentir?

Oh, maldição que assombras as horas
com clamores de realidades…

Gritos que não quero ver nem ouvir
os sentidos não se ausentam,
partir no voo das gaivotas
procurar lá do alto um caminho
nos baixios que me aconchegam…

A consciência grita sem palavras
-já chega!
O dia é longo
como longos são os infinitos que visito,
as respostas tardam
porque habita em mim
um sensível ser que não quer ver…

Não quer ver, mas sente
chora solitária
não se queixa mas a dor aumenta…

Imensa entrega ao sonho que cai no abismo
resta ao sonhador habitante de mim
que me dê alforria …liberdade…

Escrava das emoções
não consigo partir as algemas…

Hoje a noite não é minha
vagueio nela por mero acaso
…sobra do sonho a louca procura
que neste mundo de inventários
nunca são o meu cenário…

Parto com as gaivotas
não voltarei aos cais
novos dias se avizinham
nãos os procurei..fugi
…apanhada e rendida
escrevo a palavra fim
sem despedida
escrita a sangue
no frio da noite acordei
para a escrever

Doí e por muito doer
tremem as pestanas
abanam os oscilantes horizontes
em maiúsculas…com sangue
escrevo fim…
já não há finais felizes…

Somos aprendizes neste palco
a cortina fechou-se sem aplausos

E eu parto com as gaivotas
nada vai mudar no mundo
tudo é uma mudança em mim…

Parto para não voltar
ao lugar dos sonhos loucos…

Um dia pensei que eram poucos
que entendiam
hoje nesta noite que não é minha
sei que não são pouco
não são…não existem
foram fruto do meu imaginário

Parto com as gaivotas
levo nas asas o sonho
ao qual escrevi hoje o seu final!


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=289211