Eu Sonho Com a Borboleta, Ou a Borboleta que Sonha Comigo?

Data 12/03/2015 14:19:13 | Tópico: Contos -> Terror

Eu estava sentado sobre uma pedra, era março de 2004, e uma borboleta grande de asas azul cobalto passou por mim, como se eu não representasse nada, e pousou com pouca monta no meu ombro esquerdo. Eu tinha a estranha impressão de que o dia estava diferente, mas não sabia definir o porquê. Às vezes me sinto assim... Achei aquilo estranho, porque geralmente costumam nos evitar os insetos e os animais mais delicados, coisa que acho inteligente da parte deles, mas aquela borboleta, por algum motivo, resolveu pousar ali.
No início, fiquei admirando aquele belo exemplar de Lepidoptera, cujas asas refletia uma interessante frequência de ondas eletromagnéticas do espectro azul. Lembrei-me que esse tipo de inseto, embora belo, vem daquela repugnante larva que não me agrada muito, e procurei espantá-la... Mas ela ia e voltava... voava e pousava de novo.
Uma moça, muito bonita, passou e elogiou o fato de uma borboleta ter pousado em mim, fato raro e digno de observação, como visto. Fiquei lisonjeado, claro, mas algo me incomodou na hora, embora eu não conseguisse dizer o que exatamente.
Fui vencido pela borboleta, e a deixei ali, enquanto observava o movimento do outro lado da rua. Os carros iam e vinham, as pessoas se acotovelavam com pressa e sem se darem conta da vida passando ao lado delas, uma chuva se ensaiava no horizonte, o barulho sempre insuportável do trânsito...
Então, de repente, me vi acordando com alguém abrindo a porta das dobradiças enferrujadas. Eu estivera dormindo o tempo todo. Mas não me dei conta disso, era tudo tão real e lógico. Na verdade, em meus sonhos, nunca questionei a realidade que vivia, por mais absurda que me parecesse depois de acordado! Ainda deitado na cama, esfregando os olhos, lembrei-me da moça do sonho, e porque ela havia me despertado um estranhamento. Era a minha vizinha que havia morrido há pouco mais de dois meses. Mas no sonho, ela estava viva. Lá, ela existia, e a minha memória de agora estava morta.
Ao olhar para o lado, no parapeito da janela, uma coisa me surpreende. Uma borboleta enorme, de asas azul cobalto, espreitava os arredores do quarto. Acho que ela queria entrar! Assustei-me na hora! Será que eu também veria a minha vizinha? Eu ainda estava sonhando? Eu estava acordado? O que é a realidade? Talvez eu seja apenas um sonho de alguém, ou mesmo o sonho da própria borboleta.


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