Partiu de coração em farrapos

Data 14/04/2015 15:10:40 | Tópico: Poemas

Abalou era uma noite de nevoeiro
As nuvens divagavam ao sabor do vento,
Os sapos cantavam desafinados,
As estrelas tremiam do frio de inverno.

Partiu de coração em farrapos, sepultara a mãe na véspera,
A mulher fugira com outro homem pra terras de ninguém,
Ia chorando pela estrada sinuosa do bosque
As lágrimas queimavam-lhe faces comidas pelo tempo.

A lua espreitava tímida entre folhagens dos embondeiros,
As pétalas de girassóis choravam orvalho
Pareciam entender a tristeza que habita naquela alma perdida,
Ao longe ouvia se o uivar dum lobo solitário,
A escuridão dissipava-se com o avizinhar do dia no horizonte
Parou, mitigou e sentou-se à sombra do cajueiro
Afagou a cabeça da mimi, sua cadela, única amiga que não lhe largava.

O sol ia alto, agarrou num trapo, enxugou as lágrimas e retomou a caminhada,
A mimi seguia-lhe silenciosa, ora latia ora tomava dianteira correndo
Parecia querer incutir ânimo naquela alma desfeita.

No alto das copas esfervilhava a vida, de galho em galho, saltitavam graciosos macacos,
Os passarinhos emitiam suas melodias em notas sincronizadas,
Ajustou seu casaco puído pelo tempo e se pôs a caminhar em passos largos
Pois, queria chegar as terras de ninguém pra reaver sua esposa de longas primaveras.

Adelino Gomes-nhaca



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=291274