
A Sophia de Mello Breyner
Data 25/04/2015 00:40:51 | Tópico: Poemas
| Aquela madrugada que irrompeu em nós, *“dia inicial e primeiro”, Esses ventos anunciando germinação Aquela madrugada em que das cinzas renascemos Sophia, Repousa-me na garganta em estilhaços, Aquele hino que ao colo do meu Pai Há décadas ansiado Sorrindo cantarolei, Aqueles belos cravos vermelhos, A transbordar o sangue fervilhante De mim Hoje são farpas rasgando-me as entranhas Toda a quimera que inventei.
Aquela madrugada algures já perdida, É como um denso nevoeiro Onde ouço o grito da fome Do meu Irmão A sussurrar clemência pelo chão, Passa por ele tanto capitalista Mas nenhum lhe estende a mão.
Cegueira instalada e brutal, Desdém! Pobreza mais miserável que a própria fome É a condenação à mesma!
Tal qual uma manta de retalhos Velha e dolorida, Fomos vendidos, Hipotecaram nossas vestes Cobrindo-nos de maldição e vergonha.
Vertem lágrimas Os craveiros vermelhos que gritaram No peito daquela madrugada
Repousa tu aí sabedoria eleita, Teu leito de Liberdade, Eu permaneço pela enseada Nas asas das gaivotas A cantarolar como se ainda estivesse Ao colo do meu Pai.
(*Sophia de Mello Breyner) É dedicado a Sophia de Mello Breyner este poema e a todos os que sonharam com aquele “dia inicial e primeiro”, um dos poemas mais lindos que li sobre o 25 de Abril. C.M.
© Célia Moura
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