Era um tempo verde. Eu não sabia…

Data 10/02/2008 22:01:22 | Tópico: Poemas

Era um tempo verde. Eu não sabia…
Do chão, do chão que nos trilhava, amado,
a chuva fina,
obliquada,
peneirava lentamente a cidade asfaltada
e logo quente, de novo ascendia,
em coloras imperfeitas de zínias tenras,
de ternuras densas,
de nós, planos abertos, justapostos nus
ao relento ingénuo do gesto perdurado.

[No Jardim dos Lagos,
junquilhos rememoravam-nos segredos ascetas
dobrados p’los joelhos e o ar em si era divinal promessa].

Era um tempo verde. Eu não sabia…

Num íntimo impulso, seguia-te.
Seguia-te sempre, uma e outra vez
(e já te sabia ausente), retardando a saudade,
numa dor d’alma de quem ousa amar, sofrendo,
e por amor morrendo, deseja rejubilar,
cruzando umbrais d’Eternidade.

É tarde, tão tarde…
Deixa que me tombe em ascética serenidade,
que, meu amado, na penumbra em que te guardo,
e em sonhos te mimo e t’afago,
desvanecem-se-me enxugas, lágrimas de bronze,
uma a uma, soltas de sinos silenciados em gritos em meu peito.

É tarde, tão tarde...
Era um tempo verde, de um verde dolorosamente imperfeito!



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