Anjo da guarda

Data 11/02/2008 16:43:05 | Tópico: Prosas Poéticas



Sob o olhar atento da Noite, parto numa viagem em direcção ao infinito. Procuro em todas as dimensões, escutar os prantos dos que sofrem. Deambulo pelas ruas desertas das cidades, pelos portos vazios de barcos, cais de lágrimas que chorámos. Voo por entre corações quebrados, olhos molhados pela saudade do que não encontrais. Acaricio os rostos, e num sopro, seco-os, desenhando-lhes um sorriso. Ofereço-vos a minha alma, em troca de doces e meigas palavras. Entrego-vos as letras, metáforas da minha essência para que descubrais a luz que brilha em vosso peito.

Fico, e amo-vos, abraçando cada desespero, transformando cada lamento em profundo amor que vos deixo. Minhas asas aconchegam vossos corpos desprovidos de roupas, apuram-vos os sentidos, reconstroem-lhes as almas, com pedaços do meu próprio ser. Digo-vos aquilo que já sentis, limito-me a ajudar-vos a descobrir-se. Deixo-vos em minhas frases o alento de que precisais para seguir em frente, a confiança que haveis perdido ao longo do caminho e, o vosso próprio amor, que não sabias onde o havias perdido.

De feridas saradas, com um sorriso no rosto e asas abertas, tomais o rumo do vento, e eu sopro, para que ganheis altura. Vejo-vos, seguir em frente, até ao fio dum horizonte onde nunca pensastes chegar. Cansado, e com o despontar do dia a queimar-me o olhar, parto, vazio por dentro, pleno na alma, em direcção ao meu porto de abrigo, concha em que me fecho para repousar, até uma nova Noite acordar.


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