Descansa em Paz, Morte
Data 05/06/2015 07:49:46 | Tópico: Poemas -> Sombrios
| Descansa em Paz, Morte! Tu, Morte, que ceifas as vidas Dos inocentes e dos culpados, Que ousaste matar o teu Deus, És maldita cobardia mistificada No temporal horror dos viventes!
Rondas, em vigília perene, almas Que arrebatas incongruente de ti, Quere-las como eternas amantes E perde-las na podridão dos corpos. Elas te elegem a noiva abandonada!
Ah, Morte tantas vezes me roçaste, Com teu manto negro, roto d’ agonia, Seduzindo-me a teus braços fétidos. E sempre te quis, desafiador, gritando: - Toma-me, contigo! Faz-me consorte!
Mas, tu, Morte, fugiste desse altar de dor, Desse lugar de sacrifício de tantos outros Que imolaste, insana, porque te temem. Eu, que proclamo amar-te sem temores, Sou abandonado na solidão desta vida.
Foges de mim, Morte, porque já morri… Ousei ungir-me com odores pestilentos, E, tu, Morte és incapaz de tomar em ti Quem já não vive. O corpo que desejas É marioneta animada por vã existência.
E, assim, Morte, serei eu o pretendente Indesejado, o vilão que te amaldiçoou Á morte de ti mesma. Porque, tu, Morte, Que imortalizas o desespero, ufanas raivas Pela dor, morrerás também “in perpetuum”.
Lisboa, 05/06/2015
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