Nuvem Nua

Data 28/06/2015 23:44:48 | Tópico: Poemas

Parado sob sete palmos de céu,
tento tornar a tormenta do silêncio
num suave e branco véu.
Marejando este puro anseio,
meus olhos vagam sem voar,
vadiam sem achar escada alguma,
como se não houvesse onde pisar.

Varri o azul celeste em um segundo,
percorrendo o infinito da janela
como quem conquista o mundo.
Guardei no peito os cacos da Lua
ainda tímida, distante e frágil.
Deixei-a preencher meu vazio
até partir à noite sem um até logo.

Meus olhos adentram sorrateiros os bolsos
carregados de nuvens negras e ocupadas.
Como moedas que anseiam ser esmolas,
imploram ser outorgados a outro alguém.
Mas elas se desnudam de seus pesares
chovendo sobre a vida que tem sede
para que minhas moedas molhadas
caiam por terra na terra de ninguém.

Quem me dera ser uma nuvem nua!
Sem compromisso ou asas ver tudo.
Imitar formas para distrair às solidões
daqueles que buscam no céu companhia.
E quando me calhasse um chorar mudo,
procuraria tuas terras secas e tornaria
a tristeza em vida a quem quer vida.
Um poema que fala um pouco sobre todos nós, em todos os tempos, sobre qualquer época. Pois, apesar de toda a modernidade, quem nunca se perdeu entre as nuvens quando se sente só?



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