
EXPRESSO DA FOME
Data 14/02/2008 16:18:11 | Tópico: Poemas -> Sociais
| Que vem de Salvador Para Monte Azul, Traz a dor Para morrer no sul.
Devagar vem o monstrengo, No bojo a fantasia Do esfaimado nordestino. A angústia da mãe sem leite, O choro da desdita criança.
Em sua história, O macabro destino, De fazer em ruínas Sonhos nordestinos. De fazer sobre o aço, Do seu caminho, A vagante sepultura Da nefasta seca. Que liberta o homem carcomido; Para a pobreza extremada, Em algum rincão farto de febris alegrias.
Em seu balanço funéreo, Sacode e derrama lágrimas secas Em retirada. Sacode a tralha do cego que se vai, Espalha no chão sujo, O pouco que, ainda, tem, Derruba no colo De alguma alma bendita, A fome no sono bem-vindo.
Em seus bancos de madeira surrada, Carrega Pedro, que acredita em seu machado, No futuro desterro. Carrega Raimundo, E seu cão Banzé, Para onde Deus quiser. Leva Maria, A corajosa, E uma filha, Para viver a vida de uma qualquer.
Leva no corpo franzino de Betinho, O choro e a esperança do menino sertanejo. Desprende na negra fumaça Da velha locomotiva, Na tristeza do apito de partida, Uma saudade incontida Da terra ressequida, Que fica a espera de um inverno úmido, Que traga de volta À santa caatinga, Seus filhos destemidos.
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