
Escritos meus
Data 01/07/2015 13:24:49 | Tópico: Poemas
| Escritos meus
Les étoiles s’allument au ciel et la brise du soir errer doucement parmi les fleurs: rêvez, chantez et soupirez. George Sand
Sempre pus-me a escrever o que sinto sem medo De ser questionado, sempre fui eu mesmo...
Embora eu pensasse ser único, nunca o fui Sempre fui muitos ao mesmo tempo...
Já mo sorrir sem motivo aparente e também Chorei tão somente pelo prazer de chorar...
Já perdi amigos que nunca eu tivera, tão somente Por temer o simples pensar, temer, acabei por perder...
Já tive sonhos loucos como um sopro fugaz, Tão fugaz que se perderam no vácuo existente...
Já fui um rei em meu castelo de areia até Que um rufar despretensioso o demolira...
Já fui plebeu em mim mesmo a chorar Toda à madrugada sem sono a dormir...
Já fui nada e tudo em tempo ambíguo, já Fui perspicaz e parvo em simbiose presente...
Hoje revejo minhas fotos antigas e não mo Reconheço nelas, há uma efígie, mas não sou eu...
Releio meus versos e não os reconheço mais Mudei deveras e não percebi tal mudança...
Perdi-me em mim mesmo a buscar minha Estrada fui um pobre viandante, transeunte...
Ao pequeno almoço lembro-me das cousas Que jamais eu vivi e quiçá jamais viverei...
No almoço esqueço-me o que vivi no minuto Precedente e torno-me parvo só por ser...
No jantar recordo-me de tudo e de nada Meus sonhos se perdem no mavioso vento...
Agora escrevo com minha pena, em um Caderno velho afogo minha vida em versos...
Quem mo dera ser um artista para fazer Meu viver uma arte em um tom sempiterno
Quem mo dera ser somente outro às vezes; Para esquecer minha dor latente...
Quem mo dera ser Fernando Pessoa, em seu Mundo de tantos perdidos e achados...
Quem mo dera ser um sonetista como Fora Vinicius de Moraes, quem mo dera...
Mas não sou eles, sou eu um ínfimo Escrevedor de quimeras dantescas...
Escrevinho o que sempre sonhei buscando Afanar de mim o tempo derradeiro...
Não quero ser grande e nem devo sê-lo Em mim, miúdo, serei um interlúdio...
Amigos, nunca os tive e sempre afastei as Pessoas de meu viver, não sei bem por que...
Sou um tanto solitário em meu mundo Sufocante, já não aguento mais...
Rabisco folhas e mais folhas só para ver se A dor do desprezo mo deixa, mas não!
Então fujo, corro, sem saber aonde chegar enfim Sou uma espécie de D. Quixote hodierno a viver...
Tenho medo de enlouquecer sem saber que Já o sou, desde que cá eu chequei...
Tenho medo de perder sem saber que Já não há mais nada a se perder...
Corro em vão será? Escrevo por escrever Quiçá? Já não sei mais nada deveras!...
Uso heterônimo para mo esconder e Viver outra vida literalmente...
Faço-me o que não sou, sem saber o porquê De tamanha peripécia, sem mesmo saber...
Já foram folhas e mais folhas rabiscadas Com minha tinta em tom de lágrimas...
Meu céu parece um rio em pleno retumbar E sua sombra vira átimo entre o nada e tudo...
Vivo entremeado ao desespero e a satisfação Quem mo conheça decerto desconhece-me...
Sou simplesmente uma incógnita flutuante Em pleno planear sem motivos...
Traço minha vida no retilíneo redundante Em ângulo torpe e tom obliquo...
Pinto meu mundo com tintas doiradas Só para depois apagar sem palrar...
Faço dos meus dias um conto de Dostoievski Sem sua dramaticidade Karamazov...
Perco-me em Goethe sem saber que nada Sei, sou como Sócrates vaticinou...
Simplesmente vivo minha história Como um bom historiador sonho...
Sou um professor que ainda não aprendeu O trivial da vida e seus mistérios...
Vivo um silêncio com medo de falar e Ter de mo explicar com argumentos vãos...
Questiono minha sanidade em meus versos E descubro que sou o mais são vivente...
Quero sair, mas prefiro ficar, quero voar, Mas o chão mo apetece imenso...
Quero simploriamente sonhar, mas o sonho De mim foge e mo deixa preso à realidade...
Perco-me na prolixidade de meus escritos e Pergunto-me por que eu escrevo tanto?
Sou um tonto por sonhar? Mas o que mo faz Viver são meus sonhos de tom suburbano!...
Pero Vasco Lisboa, 01/10/2014
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