Acolho-me ternamente em minhas próprias mãos, Escondendo o rosto diante dum espelho vergonhoso, Em gélida e temente sensação, Ao redor da minh’alma tudo é assombroso.
Olho-me desesperadamente neste fel cortante, Sangrando as lágrimas que rolam pelo penhasco, Como ser desprezível, apenas um passante, E a desesperança açoita-me cruel, feito um carrasco.
As duas faces d'um espelho quase a quebrar, Dilacerando, pungente, as vértebras do meu ser, Nesse momento tentando da queda escapar, Num gesto insano não enxergo o que tenho a viver.
Na tentativa derradeira de escapar dum pesadelo, Relembro das batalhas sangrentas das quais escapei, Volto o pensamento triste que se consome em gelo, Aguardando o porvir sem imaginar se o terei.
Quero agora apenas apagar a luz do meu peito, Adormecer no carinho do céu em imensidão, Aquecer a minha dor no frio do meu leito, E chorar feito menina com medo da escuridão.
Talvez não queira nem sonhar, As imagens tenebrosas me assustam, A insegurança em calafrios faz-me sozinha gritar, Peço atordoada que todos os fantasmas apenas fujam.
Tenho como recompensa um lindo amanhecer, As respostas celestiais a soprar em meus instintos, Uma doce canção que não me deixará morrer, Onde encontrarei a saída desse imenso labirinto.
Onde a fé? No coração, (tenho a oração). Onde a esperança? Na minha eterna criança, (minha única bem aventurança).